sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Relatório do projeto: O oral também se ensina: práticas de ensino e apropriação do oral formal na escola públi

1. IDENTIFICAÇÃO
Coordenador/orientador: Luís de Nazaré Viana Valente
Titulo do Projeto ao qual está vinculado o plano de trabalho: O oral também se ensina: práticas de ensino e apropriação do oral formal na escola pública
Bolsista: Francisco de Assis Trindade Ferreira
Escola: EE JULIA PASSARINHO
Título do Plano de Trabalho: Práticas de ensino do oral formal na escola: concepções, mitos e desafios.
Vigência da bolsa: 23/06/2008 a 23/06/2008

2. INTRODUÇÃO
A concepção interacionista de linguagem, desenvolvida nos últimos anos, pressupõe um ensino mais produtivo, tendo como objeto gêneros orais e escritos (PCN, 1998), Entretanto, a escola ainda sofre influências de uma concepção tradicional e restrita de linguagem, cuja primazia da escrita tem sido sua marca registrada. Nesse sentido, o trabalho proposto, pretende evidenciar a representação que professores do ensino médio, têm do oral, assim como suas concepções de ensino, mitos e condições para ensiná-lo, isto é, possíveis ensaios de elaboração e execução de seqüências didáticas com tais gêneros. Para tanto, serão aplicados questionários abertos e entrevistas semi-estruturadas, além de análise de documentos didáticos usados (livro didático, projeto pedagógico, plano de aula, etc.), tendo como foco, os sujeitos envolvidos no ensino-aprendizagem de português no ensino médio das escolas públicas de Cametá-Pa.

Nesse sentido o ineditismo do trabalho está em compreender, a partir de um estudo aplicado, o ensino do português nas escolas públicas como relação ao tratamento da comunicação formal pública, formalizada pelos gêneros orais formais como; o debate, a exposição oral, a entrevista e outros, como objetos de ensino na escola. O investimento em tais estudos são ainda justificáveis por outros fatores distintos, porém complementares como:

a) a grande tematização do oral formal no campo acadêmico-científico brasileiro mais recente, impulsionado pelo aparecimento de uma concepção de linguagem mais rica e dialógica. Nessa direção tal tematização tem como base estudos francófonos de Schneuwly & Dolz (2004) e;

b) pela normatização legal-oficial do oral formal como objeto de ensino de língua, despontado pela publicação dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, no final dos anos 90, cuja maior inovação foi regulamentar os gêneros orais e escritos como objetos de ensino e os textos como unidades, a partir dos eixos da leitura/escuta, produção e análise lingüística.

3. OBJETIVOS
3.1. Geral
Evidenciar e teorizar sobre a representação que professores, alunos e coordenadores pedagógicos - do ensino médio das escolas públicas de Cametá-Pa - têm do oral e de seu ensino (objetivo parcialmente alcançado, uma vez que não foi possível, pela complexidade do tema e pela natureza da pesquisa e ainda pelo numero reduzido de bolsistas (1), analisar os discursos dos alunos e coordenadores pedagógicos, empreitado que pretendemos continuar no ano corrente).

3.2. Específicos
I) Diagnosticar o espaço do oral formal na escola pública (objetivo alcançado);
II) Compreender como as concepções, mitos, e condições dos sujeitos do processo ensino-aprendizagem podem influenciar no tratamento dos gêneros orais formais como objetos de ensino (objetivo alcançado);
III) Contribuir para o investimento em estudos aplicados tanto com relação aos problemas de ensino do oral formal, quanto para a formação de professores de língua (objetivo parcialmente alcançado, precisamos elaborar formas de intervenção concretas para redimensionar a concepção atual do oral e de seu ensino, como mostram nossos resultados).


4. METODOLOGIA
Leitura do referencial teórico-metodológico, elaboração e aplicação das entrevistas semi-estruturadas, transcrição grafemática e análise dos discursos dos professores sobre o oral e seu ensino. Os professores entrevistados (4) forma representados, por questões éticas, por P1;P2;P3 e P4.

5. RESULTADOS OBTIDOS
Nossos dados revelaram que a concepção de oralidade presente, nos discursos docentes, nas escolas pesquisadas é o oral como fala espontânea:


“então o oral a ser trabalhado é aquele que ele já traz de fora acho que vai ficar mais fácil pro aluno desenvolver o trabalho dentro da sala de aula”. (P3 3’13”)
“então é possível trabalhar a oralidade né mesmo porque fica mais fácil se o professor tiver consciência que é um fenômeno que o aluno traz de fora da sala de aula e o que a gente vai fazer e só desenvolver a oralidade dele na sala de aula é possível sim na hora que a gente pede pro aluno responder uma determinada pergunta, a gente envolve questões do dia-a-dia” (P3 5’32’’)
“você tem a oralidade no seu dia-a-dia então essa possibilidade é muito grande de mostrar pro aluno dentro da própria fala dele, as questões das variedades, as questões dos preconceitos lingüísticos, então se a gente fizer um bom trabalho a partir daquilo que o aluno produz, daquilo que ele fala da oralidade dele a dos demais a gente consegue produzir bons textos.” (P2 4’21’’)
“A gente pode tornar esse oral democratizando o ensino [...] dando ênfase e dando importância pra linguagem que ela já traz de casa e não criticando e nem menos pregando essa bagagem cultural que ele trás então primeiro nós temos a linguagem que o aluno traz de casa sua cultura e a partir daí ele vai se sentir mais a vontade, ele vai se sentir mais é propicio a se manifestar, a se expressar, sem ter vergonha da linguagem que ele faz.” (p1 2’32’’)

Como vimos os professores não conseguem fugir dessa imediatez em que nascem os gêneros primários e acabam por não conseguir trabalhar os gêneros orais formais por dois motivos:
a) por não ter clara a noção de gênero do discurso como objeto de ensino, embora essa noção já venha sendo discutida a mais ou menos dez anos com a publicação dos PCN, e, complementarmente,
b) pelo desconhecimento didático-pedagógico, em termos de modelização e sequenciação didática, na medida em que, se se toma oral para ensinar, os conteúdos ficariam de fora, como se observa nos trechos a seguir:

“é um desafio muito grande para o professor porque a gente vai ter que deixar o programa curricular, um pouco de lado pra poder trabalhar a oralidade” (P43’10’’)
“trabalhar a oralidade é possível através de um planejamento e se deixar aquilo que o conteúdo, o sistema nos dá, temos que trabalhar “x” e nós temos a questão dentro da língua portuguesa” (P32’11”)
“[...] então não dá pra trabalhar muito né a oralidade dessa maneira até porque o conteúdo programático de língua portuguesa de 5ª série e pede lá variação lingüística, os fenômenos lingüísticos, então aproveitando esse gancho daria pra trabalhar sim a oralidade não só em língua portuguesa mais em outras disciplinas [...]” (P35’28”).


Portanto, o redimensionamento da questão parece passar, necessariamente, pela formação continuada dos professores. Principalmente quando a questão é o ensino do oral, já que este nunca teve tradição no âmbito escolar em detrimento da escrita.


7. BIBLIOGRAFIA

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal [1952-3]. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CHERVEL, Andre. A história das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. TEORIA & EDUCAÇÃO, nº 2, Porto Alegre, 1990.
GOMES-SANTOS, Sandoval Nonato. Gêneros como objeto de ensino: questões e tarefas para o ensino. PROGRAMA SALTO PARA O FUTURO. MEC, 2008.
GOULART, Cláudia. A prática do gênero oral na escola: uma abordagem etnográfica. Estudos Lingüísticos XXXIII P. 298-302, 2004
MARCUSCHI, L. Da fala para a escrita: Atividades de retextualização. SP: Cortez, 2001.
MOITA-LOPES, L. P. oficina de lingüística aplicada. Campinas-SP: mercado de letras, 2002.
PIETRO, J-F & SCHNEUWLY, B. O modelo didático do gênero: um conceito da engenharia didática. Revista MOARA, nº 26. Belém-Pa: CLA/UFPA, 2006.
ROJO, R.& SCHNEUWLY, B. As relações oral/escrita nos gêneros orais formais públicos: O caso da conferência acadêmica. Campinas: Unicamp, 2008a. (mimeo – circulação restrita).
ROJO, R. Os gêneros do discurso no circulo de Bakhtin – ferramentas para a analise transdisciplinar de enunciados em dispositivos e práticas didáticas. Campinas - SP: Unicamp, 2008b. (mimeo).
________________ & CORDEIRO, G. S. (orgs. trads). Gêneros Orais e Escritos na Escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.

SEF, Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. MEC, Brasília, 2001.
SOARES, Magda. A Escolarização da Literatura Infantil e Juvenil. In BRANDÃO, et alli. Escolarização da Leitura Literária. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

9. PRINCIPAIS PROBLEMAS E DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
Apenas algumas dificuldade infra-estruturais como falta de um gravador profissional para a coleta dos dados e algumas vezes a não disponibilidade de PC conectado a internet para pesquisas e preenchimento de formulários na plataforma PIBICjr.


10. PARECER DO ORIENTADOR
Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento das atividades do aluno

O aluno desenvolveu satisfatoriamente as atividades previstas no plano de trabalho.




Belém, 28 de julho de 2009



Prof. Ms Luís de Nazaré Viana Valente
ORIENTADOR

Francisco de Assis Trindade Ferreira
BOLSISTA

Nenhum comentário:

Postar um comentário